TECNOLOGIA SEM HIGH TECNOLÓGICA

A realidade está aí. O real tem de ser feito por nós.
(SCHLEINER, LEANDRE E CONDON)

O 8 Bit Game People sabe que nem tudo que é tecnologia é high tech. No caso destes novos jogadores da música, simples Games Boy rodando em poucos bits, viram batidas, melodia, compassos dançantes, parece até coisa de grandes produtores da música eletrônica. Mas não é esta a idéia. O que se ilustra é que estes artistas saíram de seus quartos, pequenos estúdios e repletos de inspiração vindas dos games Mario Bros, Pac Man, etc., tiraram do bolso aparelhos que eram (mal) vistos como emburrecedores por muitos e idealizaram esta onda de 8 Bit, na mais pura proposta avant-garde, surpreendendo quem não apostava nada na geração video game.

Tudo funciona assim é muito simples: manifestações musicais com diversos tipos de objetos não considerados instrumentos, são traduções reconhecidas de experimentos que mudaram os caminhos da música.  Portanto, estes artistas, já conceituados de antemão e com nomes como Kraftwerk nos headphones, utilizaram antigos consoles de video games (Nintendo, Game Boys)  para produzir uma sonoridade que remete aos sintetizadores caseiros e às músicas de video game da geração low bit, mas, exploradas de uma maneira contemporânea. Com levadas no estilo eletrônico, breakbeat, pop e rock, entre outros até jazz (revisitaram Miles Davis), estes artistas ultrapassam as limitações da tecnologia destes aparelhos, utilizando-os em suas apresentações não apenas como base para samplers, mas principalmente como ferramentas para a produção de música ao vivo. Os artistas gráficos que acompanham estes músicos também trabalham com linguagens de sistemas operacionais vintage como os dos Computadores Amiga e usam softwares antigos para produzir novas imagens abstratas, manipuladas ao vivo, que são a base visual da cultura 8 Bit. Estas imagens vão se pixelarizando, se desconstruindo e viram ruídos jurássicos de um tempo que parece tão distante, mas foi ontem, o tempo dos primeiros processadores 8 bit, usados no final da década de 70, início dos anos 80.

8 Bit é música eletrônica inspirada pelos games. Faz fronteira com outros estilos como Chiptune, Nintendocore, Circuit Bending, Video Game Music, Low Tech Music, Bitpop, Demoscene e surgiu nos anos 90 na Europa, principalmente na Suécia e Alemanha. A idéia foi disseminada online, como muitas das idéias da atualidade. Aí foi uma questão de tempo, pouco tempo pois sempre há a urgência da contemporaneidade em criar novas propostas, para que em suas performances, estes artistas de 8 bit empunhassem seus Game Boys como se fossem guitarras de rock, o terreno fosse trabalhado e a disseminação no mundo (Europa, EUA, Asia, America do Sul) fosse inevitável, já que a sonoridade dos games é comum a muitas gerações, assim como a lembrança dos sons dos sintetizadores dos anos 80.

O melhor é que quase todo o material deste estilo, músicas, clips, EPs completos podem ser baixados gratuitamente pela internet. Na verdade não poderia ser de outro jeito. Micromúsicas, leves que podem ser transmitidas facilmente pela world wide web, que olhadas pela perspectiva do arquivo são sinônimos de 1 byte music (8 bit= 1 byte), que cabe em qualquer aparelho móvel que toque música, enfim, totalmente sintonizada com os tempos atuais. Mas o progresso não é a lógica deste evento, a cronologia não é a ordem destas propostas. Enquanto a revolução científica das ciências exatas se refina nesta época de tecnologia, também se processam as transformações das ciências humanas e neste caso, a tecnologia serve de condutor para a imersão em toda uma cultura. O uso de tão poucos recursos é uma rebeldia que desafia as noções de valores, desafia o mercado, intelectuais e suas pós tudo; é um respiro do mainstream e um certo desabafo: vamos é nos virar com esta “sucata” e tratar de recuperar a nossa integridade artística.